Que Ronaldo Fraga é um mestre do nosso fashion design acho que ninguém duvida. Além de criar moda com personalidade, ele abusa também da sensibilidade. Dá pra notar isso em seu trabalho, que há anos vem mostrando o seu lado criativo e autoral.
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Ronaldo começou a aparecer e ser reconhecido a partir da semana de moda Casa de Criadores. Foi quando a moda brasileira começou a criar uma identidade. Ele foi mostrando talento, coleções diferenciadas e está até hoje se reinventando e emocionando através das suas roupas.

Simples assim? Parece! Para quem trabalha no mundo fashion sabe das dificuldades de criar, produzir e manter uma marca respeitada no atual mercado. Mas, quem está de fora, olha o glamour e acha que é só inventar uma coisa diferente e ponto. Fácil, né?

Quem é gênio deve saber esta resposta.

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Voltando à sensibilidade do Ronaldo, seu último desfile na semana de moda de São Paulo, deu mostra disso. O tema da sua última coleção “El Día que me Quieras”, tango de Carlos Gardel, na verdade, foi inspirada na loja (com o mesmo nome) que o estilista Ney Galvão tinha em Itabuna, na década de 70, o local era referência para travestis. A coleção tinha um ar retrô, com referências aos anos 20, 30 e 40, com muita estamparia trompe l’oeil, técnica artística que cria uma ilusão ótica que faz com que formas aparentem possuir três dimensões.

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O desfile foi emocionante, as modelos eram todas transexuais, ao final todas dançaram, e Ronaldo mais uma vez inovou e expressou sua sensibilidade, mostrando a sua provocante visão do que significa ser mulher na atualidade; quais necessidades e interesses.

Mais do que coleções de roupas, estilistas vendem sonhos, traduzem desejos, inovam e são os primeiros a mostrar uma nova direção a ser seguida. Trabalhar com tendências, antecipa a vontade que ainda está no inconsciente de cada um, de um coletivo. Por isso a emoção que Ronaldo causou, tão legítima, demonstra a empatia pela diversidade. A diversidade que existe, mas que ainda não é bem compreendida. Sob a ótica genial e desafiadora que poucos conseguem alcançar.

A moda tem um viés sociológico que é inevitável encarar porque decifra a mais íntima ânsia e que é transmitida através da maneira como nos comportamos, vivemos, vestimos….Poucos conseguem enxergar.

O que mais importa não é simplesmente a roupa (claro que é o produto principal, com muito valor agregado e também subjetivo), mas a mensagem e o recado que se quer mandar e o objetivo a ser alcançado. O meio a ser usado pode ter diferentes modos para um artista se expressar. A sua assinatura se reconhece de longe.

LKV

fotos: reprodução/internet

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